REPORTAGEM – TINIGUENA REFORÇA AS LIGAÇÕES MARÍTIMAS ENTRE AS ILHAS BIJAGÓS E DESTAS COM BISSAU E BIOMBO NO CONTINENTE

A TINIGUENA tem vindo a apoiar e a investir no desenvolvimento e na melhoria das condições de vida dos habitantes das ilhas, nomeadamente das ilhas Urok, desde 1993. Considerando as necessidades e os desafios que condicionam a circulação de pessoas e de produtos entre as ilhas Bijagós e a região continental, designadamente Bissau, a TINIGUENA adotou uma visão estratégica, que se materializou no investimento na aquisição de oito embarcações (cinco de alumínio e três de madeira). Este investimento visou mitigar o isolamento das ilhas, fomentar a produção local e, por conseguinte, promover o crescimento económico e a autonomia das populações.

Três embarcações estabelecerão ligações diretas e recíprocas entre Bissau e as sedes setoriais, nomeadamente o setor de Caravela, Uno, Bubaque e Bolama. As outras cinco embarcações realizarão ligações entre as ilhas desses setores, proporcionando apoio às associações femininas nos deslocamentos para a exploração de moluscos.

A aquisição das embarcações foi efetuada no âmbito dos projetos ACF-AO e PADES. Para além das embarcações marítimas, a TINIGUENA investiu também na aquisição de moto-carros, com o objetivo de facilitar as movimentações entre tabancas nas ilhas dos setores de Caravela e Uno. Os beneficiários são exclusivamente agrupamentos de mulheres ligadas às hortas apoiadas pelos projetos.

No que diz respeito ao transporte marítimo, foi adotado o modelo de cogestão, enquanto no caso dos moto-carros, foi implementado um sistema de gestão comunitária e coparticipativa.

Emanuel Ramos, coordenador da TINIGUENA nas Ilhas Urok, explicou que a gestão de transporte nas ilhas é um processo antigo, iniciado na década de 1990, que permitiu à organização adquirir experiência na gestão de transportes marítimos comunitários.

Inicialmente, a TINIGUENA utilizava embarcações de madeira, mas, através de projetos específicos, conseguiu adquirir embarcações de alumínio.

“O modelo de cogestão estabelecido, fundamentado na colaboração entre a comunidade e a TINIGUENA, implica a atribuição de responsabilidades específicas. A comunidade é responsável pela supervisão do funcionamento, enquanto a TINIGUENA se compromete a garantir uma gestão financeira transparente e o funcionamento das embarcações, sem uma dependência significativa dos projetos. Este compromisso assegura os custos de manutenção e os pagamentos dos marinheiros. Ademais, é realizada uma prestação de contas regular perante a Assembleia Geral de Urok, de modo a facultar às comunidades, além das equipas de gestão, a compreensão do funcionamento das embarcações, dos resultados obtidos, das dificuldades enfrentadas e dos desafios emergentes”.

É importante ter em conta que as ilhas de Urok não dispunham de um sistema regular de transportes, sendo que as deslocações entre as ilhas eram efetuadas através de canoas de pesca. Desta forma, a ligação entre as ilhas era significativamente mais difícil. O fluxo de passageiros não suscita um investimento particular no setor dos transportes, uma vez que o custo do transporte era considerado excessivo face ao nível de pobreza.

A ligação regular com o continente, proporcionada pelas embarcações da Tiniguena, permitiu às populações deslocar-se com maior regularidade e segurança até Bissau, escoar os seus produtos e desenvolver as suas atividades económicas. A redução dos riscos de afogamentos em condições meteorológicas adversas, bem como dos problemas de superlotação, desconforto e isolamento económico, foi igualmente significativa.

O projeto em Urok inclui duas embarcações de alumínio de grande porte, sendo que uma delas, a mais antiga, opera na rota de Formosa, Chediã e Bissau. A segunda embarcação, a mais recente aquisição, opera na rota experimental de Orango Grande, Uno, Formosa e Bissau, em viagens de ida e volta.

Adicionalmente, duas embarcações de menor dimensão, construídas localmente, são utilizadas para o transporte de mulheres de Boutai até à região de Biombo e para a exploração de moluscos por mulheres de Chediã, bem como para outras ilhas do arquipélago, como Nago e Formosa. A gestão das pirogas é assegurada pelos agrupamentos de mulheres, enquanto a Tiniguena se concentra no reforço das capacidades e no acompanhamento dessas gestões, garantindo a sua sustentabilidade.

A ligação com Bubaque é uma possibilidade, embora a sua concretização esteja dependente do fluxo de passageiros.

No entanto, foi também referido que é difícil fixar dias e horas de viagem, para além do condicionamento das marés, mas também do fluxo de passageiros, que por vezes não ultrapassa os vinte. As datas das carreiras são, por conseguinte, cuidadosamente marcadas, e, ocasionalmente, é feita uma conciliação entre a carreira e as atividades dos projetos.

Em relação aos 27 moto-carros, é importante salientar que estes não só facilitam o transporte de cargas e pessoas das aldeias mais distantes, como também simplificam as deslocações e possibilitam o aluguer.

A gestão integral destes veículos é confiada à comunidade, com a Tiniguena a assumir um papel de acompanhamento dessas mesmas gestões por intermédio dos animadores locais. Adicionalmente, os veículos são disponibilizados exclusivamente a agrupamentos de mulheres envolvidas nas hortas onde são executados os projetos, mais concretamente nas ilhas Urok, Canhabaque, Orango Grande e Uno. Está prevista a inclusão destes veículos nas próximas aquisições para as ilhas de Onhocunzinho e Orangozinho. Ademais, todas estas comunidades beneficiam de formações em mecânica e gestão de negócios de moto-carros.

DESENTRAVES NO COMÉRCIO INTERSECTORIAL E AS DIFICULDADES DE SUBVENÇÃO DAS DESPESAS DAS EMBARCAÇÕES

Manuel Ramos explicou que, na maior parte das viagens, os passageiros não conseguem cobrir os custos de combustíveis, mas que, por vezes, conseguem compensar esses custos com os aluguéis. Não é possível abranger todas as viagens, sendo necessário que o Estado subvencione os transportes marítimos para cobrir esses custos. A gestão do transporte marítimo é complexa, pelo que não pode ser totalmente atribuída à comunidade. Foram experimentadas duas canoas de madeira, que são menos complexas, mas todas ficaram irrecuperáveis, dado que a sua gestão foi atribuída totalmente à comunidade. Esta, devido aos fatores de fluxo de passageiros e manutenção, não conseguiu suportar a gestão, o que gerou conflitos na comunidade.

O custo das viagens varia entre 2500 e 5000 FCFA, sendo que a viagem de Bissau a Chediã custa 2500, a viagem de Bissau a Formosa custa 3000 e a viagem de Bissau a Uno custa 4000. O custo de funcionamento mínimo é coberto pelos 5000 FCFA, o que, por sua vez, permite cobrir os custos de investimento e de amortização do equipamento. Estes últimos são suportados pela estratégia de aquisição de fundos da Tiniguena, que visa angariar verbas para cobrir estas e outras despesas.

Embora não seja possível avaliar o rendimento económico diretamente relacionado com o bote, a sua influência no crescimento económico das populações é notória. Segundo a perspetiva da Tiniguena, o projeto é considerado rentável. Nelson Tavares, coordenador do PADES em Tiniguena, explicou que o projeto envolveu o investimento em três embarcações (duas de porte médio e uma de porte maior) para estabelecer a ligação entre as ilhas da região de Bolama Bijagós. A ligação das ilhas do setor de Uno com as ilhas do setor de Caravela será efetuada por uma embarcação de porte médio. A ligação com Bissau será assegurada por uma embarcação de porte maior. A outra, por sua vez, estabelecerá a ligação entre as ilhas do setor de Bubaque e a própria sede sectorial, Bubaque.

A embarcação de maior dimensão estabelece uma ligação direta entre Bissau e todos os setores mencionados, Uno, Caravela, Bubaque e Bolama, alternando com outras embarcações da Tiniguena nas mesmas zonas. A embarcação de maior dimensão apresenta uma capacidade de carga de até dez toneladas de produtos e transporta até sessenta pessoas, enquanto as embarcações de menor porte transportam entre quarenta e cinquenta pessoas.

Estas embarcações permitirão o desenvolvimento de todas as ilhas, principalmente as de pequena dimensão, facilitando o acesso das populações aos mercados locais e promovendo a comercialização dos seus produtos. No âmbito do projeto, estão a ser desenvolvidas atividades no setor da orizicultura e horticultura.

“Esta medida permitirá a obtenção de rendimentos através das economias familiares, bem como o incremento das produtividades e das vendas nos mercados locais e regionais. Esta rota foi concebida com base nas recomendações do estudo socioeconómico realizado na região de Bolama Bijagós e Quinará.

Afirmou ainda que as duas embarcações terão um impacto social significativo, ao facilitarem o desenvolvimento das ilhas e a criação de mais ligações, uma vez que o estudo demonstrou que há dificuldades em ter acesso a produtos de primeira necessidade. Os produtos se esgotam devido à falta de ligações de transporte para essas ilhas, sendo as atuais ligações limitadas a canoas de pescadores.

O estudo prevê que as embarcações não gerarão benefícios económicos, mas sim benefícios sociais. Nesta fase, a subvenção será do projeto.

Foi ainda realçado que o objetivo não é o lucro, mas sim a melhoria das condições de vida das populações. O seu impacto económico não será visível a curto prazo, mas a sua influência no crescimento económico das populações, no aumento da produção e na promoção da autonomia dessas populações, contribuindo para o desenvolvimento social e político da região, será significativa. Outro benefício é o aumento da acessibilidade às ilhas por parte dos funcionários, muitos dos quais abandonam os seus postos de trabalho devido às dificuldades de mobilidade.

O desafio com o governo reside na possibilidade de subvencionar, pelo menos, o combustível, uma vez que nenhum barco é economicamente viável, mesmo para os barcos que viajam a Bubaque.

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